terça-feira, 28 de setembro de 2010

Cadê a imagem?

“Tu me apareceste, sombrio e tétrico, qual outro Hamlet; tinhas os cabelos revoltos, e o rosto iluminado por uma agitação febril. Vinhas envolto em uma longa capa, e as botas cobertas pela poeira das estradas, atestavam que havias então chegado de alguma jornada... Depois... quando a tormenta passou, tu tinhas desaparecido também... onde foste? Não sabias que teu vulto deixaria em mim uma indelével impressão? (Revocata In: Noturno: Folhas errantes, 1882)




Segredos que escapam pelas vírgulas e pontos que nunca são finais
Reticências que me empurram para uma próxima linha
E choro com o peito aberto e me interrogas
E eu cheia de emoção exclamo
“é que eu preciso dizer tanto”

Estava à janela quando abri as cortinas
A neblina caía lentamente
Gotas d’água desprendiam-se das nuvens ranzinzas
Um trovão gritou
Escutei seu eco
A tempestade vinha em minha direção
tal como aquilo que sentia.
Naquela tarde sombria
Tu vinhas casmurro
Me olhava nos olhos
E tive medo do relâmpago
Desde então não te olhei mais nos olhos
Saí correndo pra dentro de mim.

Ninguém mais me achou
Tinhas olhos para mim
Mas só vias minha boca vermelha
Queria queimar-te a boca
Mas ela se tornava doce ao te tocar
E quase que se desmanchava
E virava mais uma gota de nuvens não ranzinzas
que tentavam passear por aí
acima da tua cabeça pensante...

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