domingo, 6 de fevereiro de 2011

O caçador e a caça

Era uma mulher negra sentada em seu sofá verde. Mas eu só enxergava a porta branca e aquele seu batom vermelho. Eu, branca como a neve, mas pensava como escrava.
“Nunca mais quero ver essa sua cara branca” – ela sussurou cheia de opinião.
“Eu só queria ser livre” – eu revidei.
Diariamente, o sofá verde era decorado pela mulher negra. Diziam que o batom vermelho a realçava. Eu não sei de nada. Nunca a vi por inteiro, apenas via o vermelho.
De manhã, o trabalho me consumia. Mas as tardes e as noites... essas eu que consumia ao observá-la.
Tentei-a.
Decidi-me a tentá-la.
Até um dia em que o sofá verde ganhou um cobertor vermelho. Um cobertor que decorava-o, mas eu não podia nele sentar, pois minhas mãos já estavam sujas de sangue, minha mente já estava inundada de lágrimas de sangue. Lágrimas de raiva, pois seu sangue havia contaminado a minha posse.
E o sofá agora é meu

PESADELO

Pesadelo
Te chamo ou não te chamo
Espero
Aguardo
Te aceno
Finges não me olhar
Penso em desistir mesmo quando com esperança te chamo
Então tu vens
Mas quando vens
Eu não quero mais
Mania de decidir sem pensar
Teu taxi virou
Virou para direita
E bateu várias vezes na estrada
Estavas em pedaços
Pedaços unidos separados destroçados...

FAROL AUTOMATIZADO

Não sou um farol automatizado
Tenho um vigia
E a ele pertenço
Moro no chalé nº 1
Na praia com cavalos
Na caixa com brinquedos
Sou um boneco com voz
Olhe pra trás de você
E verá a si mesmo
E verá
um volume pronto
O primeiro volume,
pronto,
mas perdido no mar.
E não está dentro de uma garrafa
E não será achado pelo que te chama:
Vem!